Eólica offshore e pescadores artesanais do Nordeste: tensão que pode chegar à COP30

Com a expansão acelerada dos projetos de energia eólica offshore no Brasil, especialmente na costa do Nordeste, um novo desafio entra em pauta: o conflito entre empresas do setor e pescadores artesanais, que alegam ameaças diretas às suas áreas tradicionais de pesca e ao modo de vida local.

A tensão vem crescendo e poderá ganhar repercussão internacional durante a COP30, em Belém, onde vozes da sociedade civil devem denunciar a exclusão de comunidades tradicionais dos processos de licenciamento ambiental e consulta.

O que está em disputa?

A costa nordestina — de estados como Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí e Bahia — tem potencial técnico excepcional para a geração eólica no mar, com ventos constantes e rasos que facilitam a instalação de aerogeradores.

Entretanto, essas mesmas regiões são ocupadas por milhares de pescadores artesanais, marisqueiras e comunidades que dependem da pesca de subsistência e da biodiversidade costeira para viver. Eles relatam que:

  • Estão sendo excluídos dos processos de licenciamento dos parques eólicos offshore;
  • As áreas definidas para instalação de torres e cabos submarinos coincidem com zonas ricas em pesca, como bancos de camarão e lagosta;
  • medo de restrições futuras à navegação e pesca artesanal;
  • Não há garantias de compensação socioambiental ou planos de inclusão produtiva.

O que dizem os especialistas?

Estudos do Projeto Eólicas e Povos do Mar (financiado pela FAPESP, UFBA e UFC) apontam que os mapas de zoneamento costeiro do governo federal não consideram o conhecimento tradicional das comunidades pesqueiras.

Além disso, pesquisadores têm alertado que a ausência de Consulta Livre, Prévia e Informada (CLPI), conforme prevê a Convenção 169 da OIT, pode configurar violação de direitos territoriais e culturais.

Risco diplomático e projeção na COP30

Com a realização da COP30 em Belém, em 2025, diversos movimentos sociais e entidades já organizam dossiês e representações para denunciar internacionalmente esses impactos. O debate sobre transição energética justa e inclusiva estará no centro das discussões — e o Brasil será cobrado a mostrar equilíbrio entre desenvolvimento renovável e justiça social.

Caminhos possíveis

Para que a energia eólica offshore avance com legitimidade e sustentabilidade, é essencial:

  • Garantir consultas públicas qualificadas, com presença efetiva das comunidades impactadas;
  • Incluir os pescadores em programas de compensação, qualificação e integração produtiva;
  • Criar políticas públicas que valorizem o conhecimento tradicional e promovam zonas de exclusão pesqueira protegidas;
  • Fortalecer a governança costeira participativa, com apoio técnico, jurídico e social às populações do litoral.

Conclusão

A expansão da energia eólica offshore no Brasil representa uma enorme oportunidade ambiental e econômica, mas precisa ser conduzida com diálogo, justiça territorial e inclusão social. Ignorar os pescadores é contrariar os princípios de uma transição energética justa. A solução não está em desacelerar, mas em incluir todos os envolvidos no processo.

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