A pobreza energética no Brasil não se resume à falta de acesso à rede elétrica, mas inclui situações em que famílias estão conectadas, mas sem recursos para garantir um consumo mínimo adequado — como cocção, refrigeração e iluminação. Estima-se que um em cada quatro lares brasileiros gaste mais de 10% da renda com energia elétrica e gás, limite usado por organismos internacionais para definir essa condição.
Quem é mais afetado?
As regiões Norte e Nordeste concentraram a maior parte dos casos, especialmente em famílias chefiadas por mulheres ou pessoas negras. Mesmo beneficiárias da Tarifa Social, muitas famílias consomem menos de 30 kWh por mês — apenas o necessário para geladeira e lâmpada. Além disso, cerca de 14 milhões de pessoas ainda utilizam biomassa, como lenha e carvão, para cozinhar, expondo-se a riscos à saúde e à poluição.
Políticas e programas em ação
O Brasil conta com diversas iniciativas para enfrentar essa realidade. Entre elas, destacam-se o Luz para Todos — beneficiando mais de 17 milhões de pessoas através de soluções renováveis descentralizadas — e o Gás para Todos, que busca ampliar o acesso ao GLP para 20 milhões de famílias até 2025. A Tarifa Social protege energeticamente os domicílios de baixa renda com descontos que podem chegar a 100% no consumo básico.
Além disso, o MME, a EPE e o BID lançaram o Observatório Brasileiro de Erradicação da Pobreza Energética (OBEPE), que monitora indicadores em diversas bases de dados para embasar políticas públicas mais eficazes.
Soluções inovadoras e locais
A transição justa demanda ações além da rede elétrica tradicional. Modelos como micro-redes solares e geração distribuída já são testados em comunidades da Amazônia e favelas urbanas, com apoio de iniciativas como “Energia Sem Fronteira” e cooperativas solares — diminuindo custos e gerando renda local.
Projetos de cocção limpa, como as Cozinhas Solidárias Sustentáveis, combinam biodigestores e painéis solares para reduzir o uso de lenha por famílias em vulnerabilidade, promovendo mais saúde e igualdade de gênero.
Desafios e o caminho adiante
Apesar dos avanços, obstáculos persistem. A infraestrutura muitas vezes não alcança áreas isoladas, e as soluções off-grid são mais caras e logisticamente complexas . Políticas públicas precisam incorporar a equidade tarifária e reforçar incentivos à geração solar em comunidades de baixa renda.
O Brasil, como líder em fontes renováveis, tem a oportunidade de consolidar sua transição energética ao resolver o desafio da pobreza energética. Isso exige integração entre políticas públicas, tecnologia, comunidade e investimento na universalização do acesso moderno à energia — conforme previsto no ODS 7 da ONU.