O desinvestimento em combustíveis fósseis, conhecido como “divestment”, ganhou força como ferramenta estratégica para reduzir financiamento de petróleo, gás e carvão, pressionando o setor a acelerar a transição para energias limpas. Grandes instituições financeiras e fundos soberanos têm se afastado dessas fontes, considerando não só o impacto ambiental, mas também o risco financeiro de ativos que podem se tornar obsoletos, os chamados “stranded assets”.
Por que o desinvestimento é relevante?
Investir em energias fósseis traz riscos crescentes: commodities voláteis, custos regulatórios mais altos e potencial judicial. O IEEFA destaca que o setor de petróleo e gás vem apresentando desempenho financeiro ruim comparado ao mercado geral, com retorno anual de apenas 1%, frente a 10% do S&P 500. A lógica financeira, portanto, sustenta a mudança: reduzir exposição a riscos de longo prazo e preservar o valor patrimonial.
Impactos concretos do desinvestimento
Segundo estudos, vender ações fósseis pode elevar o custo de capital dessas empresas: a saída de grandes investidores aumenta a percepção de risco do mercado. Embora o efeito sobre preços e produção ainda seja debatido, efeitos simbólicos (ou “stigma”) podem afetar a avaliação institucional da empresa.
O relatório publicado pela BloombergNEF mostra que, globalmente, para cada US$ 1 investido em fósseis, apenas US$ 0,48 vão para renováveis — revelando um desequilíbrio estrutural que precisa ser revertido para atingir as metas climáticas.
Engajamento versus Exclusão
A estratégia de desinvestimento pode ser combinada ao engajamento: fundos passam a dialogar com empresas para incentivar mudanças, ao invés de apenas vender ativos. Pesquisas revelam que ações coordenadas de investidores podem influenciar decisões corporativas.
Pressão regulatória e riscos emergentes
Nos últimos anos, bancos e instituições financeiras globais têm revisado suas carteiras de investimento diante das crescentes exigências socioambientais e da pressão de investidores institucionais por alinhamento à agenda ESG. Apesar de parte do setor financeiro ainda manter linhas de crédito para projetos ligados a combustíveis fósseis, o risco regulatório e reputacional associado a esses financiamentos é cada vez maior.
Governos, especialmente na Europa e nos Estados Unidos, avançam em regulamentações que exigem transparência climática, divulgação de emissões financiadas (financed emissions) e planos claros de transição energética. Paralelamente, cresce o risco de litígios ambientais, nos quais empresas e bancos podem ser responsabilizados judicialmente por financiamentos considerados incompatíveis com metas de neutralidade de carbono.
Esse cenário aponta para um ambiente de negócios em que o custo de capital tende a subir para ativos fósseis, enquanto projetos sustentáveis ganham prioridade nos portfólios institucionais. Bancos globais voltaram a financiar combustíveis fósseis em 2024, atingindo US$ 869 bilhões, mas enfrentam riscos crescentes de litígios ambientais e perda de reputação. A tendência indica que a pressão financeira e legal continuará crescendo contra quem não se adapta à agenda ESG.
O que isso significa para o futuro profissional?
Para alunos e jovens profissionais, essa realidade destaca a importância de habilidades em finanças sustentáveis, análise de risco climático e governança ESG. Haverá crescimento na demanda por consultores, analistas e gestores com perfil híbrido — que entendam tanto o mercado energético quanto os critérios ESG e suas implicações regulatórias.