A energia das marés, ou energia maremotriz, é uma fonte limpa e renovável que aproveita o movimento natural das marés para gerar eletricidade. Embora já esteja em operação em países como França, Reino Unido, China e Coreia do Sul, essa tecnologia ainda é pouco explorada no Brasil — mesmo com um litoral extenso e repleto de possibilidades.
Como funciona a energia das marés
O princípio é simples: quando o nível do mar sobe e desce, grandes volumes de água movimentam turbinas instaladas em barragens, canais ou plataformas submersas. Esse movimento gera energia mecânica, que é convertida em energia elétrica por um gerador.
Existem três formas principais de aproveitamento:
- Barragens (bacias de maré): estruturas que retêm água durante a maré alta e liberam durante a baixa, acionando turbinas.
- Turbinas submersas: semelhantes a turbinas eólicas, mas instaladas no fundo do mar para capturar a força das correntes de maré.
- Sistemas híbridos: que combinam tecnologias de maré com correntes oceânicas e até ondas.
O Brasil e o potencial maremotriz
O Brasil possui cerca de 8.500 km de costa, com áreas promissoras para o aproveitamento dessa fonte — especialmente no Nordeste. Um exemplo pioneiro foi a planta experimental no Porto de Pecém (CE), inaugurada em 2012, considerada a primeira da América Latina a operar com energia das marés. Desenvolvida em parceria entre a UFC e a Coppe/UFRJ, o projeto chegou a gerar até 50 kW, mas foi desativado por falta de continuidade em políticas de incentivo e financiamento.
Segundo estudos da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) e da COPPE, o litoral nordestino possui regiões com amplitudes de maré superiores a 3 metros — especialmente no Maranhão, Piauí e Ceará —, o que torna essas áreas tecnicamente viáveis para projetos piloto ou de médio porte.
Desafios do setor
Apesar de seu potencial, a energia das marés enfrenta desafios:
- Altos custos de implantação e manutenção, devido ao ambiente marinho corrosivo e à complexidade das obras;
- Falta de incentivos específicos e marcos regulatórios no Brasil;
- Baixo investimento em pesquisa e desenvolvimento nacional;
- Concorrência com outras fontes renováveis mais baratas e consolidadas, como solar e eólica.
Por que vale a pena investir?
Mesmo com obstáculos, a energia das marés oferece vantagens relevantes:
- Previsibilidade: ao contrário do sol e do vento, o movimento das marés é altamente previsível, o que facilita o planejamento da geração.
- Zero emissões: é uma fonte 100% limpa, com baixíssimo impacto ambiental se bem projetada.
- Complementaridade: pode funcionar em horários distintos da solar e da eólica, contribuindo para a estabilidade da matriz energética.
Conclusão
A energia maremotriz representa uma alternativa inovadora e estratégica para diversificar a matriz energética brasileira. Embora ainda não esteja inserida nas prioridades atuais do setor, projetos-piloto e novos modelos tecnológicos poderão transformar o mar em mais uma fonte de energia limpa e sustentável para o país — especialmente se houver incentivos à pesquisa e parcerias com universidades e empresas do setor.