O Brasil acaba de dar um passo importante rumo à integração total entre mobilidade elétrica e inteligência energética. Em 2025, projetos-piloto com a tecnologia V2G (Vehicle-to-Grid) começam a ser testados em universidades e centros de pesquisa do país, permitindo que veículos elétricos (VEs) não apenas consumam energia, mas também devolvam eletricidade para a rede.
Coordenado por instituições como o Senai Cimatec (BA), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e com apoio da Eletrobras e concessionárias regionais, os testes envolvem veículos equipados com sistemas bidirecionais e carregadores inteligentes, que se conectam a redes controladas para armazenar ou fornecer energia conforme a necessidade do sistema elétrico.
(Aqui pode entrar uma imagem de um carro elétrico conectado a uma estação V2G.)
O que é V2G?
A tecnologia V2G (do inglês “vehicle-to-grid”) permite que baterias de veículos elétricos atuem como unidades móveis de armazenamento energético. Durante períodos de baixa demanda, os carros são carregados. Em momentos de pico ou instabilidade, eles podem injetar parte da energia armazenada de volta na rede.
Essa solução é especialmente promissora em sistemas com alta penetração de fontes intermitentes, como solar e eólica — pois os veículos ajudam a equilibrar a oferta e a demanda em tempo real.
Oportunidades e desafios
A adoção do V2G representa uma revolução na forma como pensamos o transporte e a energia. Além de tornar a mobilidade mais sustentável, ela transforma carros em ativos energéticos. Para o consumidor, há potencial de redução de custos com energia e maior autonomia energética.
No entanto, ainda existem desafios:
Regulação inexistente ou incipiente
Atualmente, o Brasil ainda não possui um marco regulatório claro que permita aos veículos elétricos injetar energia na rede elétrica e serem remunerados por isso.
Sem essa base legal, o V2G ainda depende de projetos-piloto e não pode ser escalado comercialmente.
Infraestrutura e padronização técnica
A implementação do V2G exige carregadores bidirecionais, que permitem não apenas carregar, mas também descarregar a bateria do veículo para a rede.
Degradação das baterias
Um dos temores mais comuns é o impacto do V2G sobre a vida útil das baterias.
Embora estudos recentes mostrem que, com controle inteligente, o impacto pode ser mínimo, essa é uma preocupação legítima — especialmente sem garantias ou incentivos para o usuário.
Cibersegurança e gestão dos dados
Para funcionar de forma eficiente, o V2G depende de uma comunicação constante e em tempo real entre o carro, a rede e os sistemas de controle.
A digitalização da rede traz benefícios, mas também abre portas para riscos cibernéticos, exigindo segurança de ponta e transparência nos sistemas.
Modelo de negócios e retorno financeiro
Ainda não está claro quem paga e quem ganha com o V2G.
Esse modelo deve equilibrar interesses de consumidores, montadoras, concessionárias e agentes do setor elétrico.
Conclusão
Apesar dos desafios, o V2G representa uma revolução com grande potencial no Brasil, especialmente se vinculado a frotas corporativas, ônibus elétricos ou estacionamentos de universidades e empresas. Para destravar esse futuro, será preciso coordenação entre tecnologia, regulação, segurança e inovação de mercado.
O avanço do V2G no Brasil também dependerá de incentivos para veículos com tecnologia bidirecional, da expansão de infraestrutura pública de recarga e de modelos de negócio que valorizem o uso das baterias como suporte à rede.