Na manhã desta terça-feira (02/07), a Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados promoveu uma audiência pública fundamental para o futuro da matriz elétrica brasileira: a inserção de sistemas de armazenamento de energia no país. O tema, até pouco tempo restrito a círculos técnicos e especialistas, vem ganhando espaço no centro das discussões políticas e estratégicas da transição energética.
Por que o armazenamento de energia é essencial?
Com a crescente participação das fontes renováveis variáveis — como solar fotovoltaica e eólica — no sistema elétrico brasileiro, cresce também a necessidade de tecnologias capazes de garantir estabilidade e confiabilidade ao fornecimento de energia. O sol não brilha à noite, e o vento nem sempre sopra quando é mais necessário — daí a importância de se poder armazenar o excedente gerado em momentos favoráveis e distribuí-lo nos períodos de maior demanda.
Soluções de armazenamento, como baterias, sistemas térmicos, hidrelétricas reversíveis e até hidrogênio verde, representam um elemento-chave para o equilíbrio entre oferta e demanda, o que se torna ainda mais relevante diante da descentralização da geração e da digitalização do setor elétrico.
Avanços internacionais e o atraso brasileiro
Enquanto países como Estados Unidos, China, Austrália e membros da União Europeia já possuem regulações consolidadas e incentivos claros para o armazenamento, o Brasil ainda não conta com um marco regulatório específico. Isso tem gerado incertezas jurídicas, insegurança para investidores e atrasos na adoção em escala comercial.
A audiência pública buscou ouvir especialistas, representantes da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), da academia e do setor privado. Entre os principais pontos discutidos, destacam-se:
- A necessidade de classificação regulatória clara para sistemas de armazenamento: são geração, distribuição, serviço ancilar ou algo novo?
- A importância de incentivos regulatórios e financeiros para projetos-piloto e inovação.
- O papel do armazenamento na redução de custos com térmicas e no alívio da rede em horários de pico.
Oportunidades para o Brasil
Com a queda dos custos das baterias e o avanço de novas tecnologias, o Brasil tem uma janela de oportunidade para desenvolver soluções locais, inclusive com potencial de industrialização e geração de empregos qualificados. Além disso, a inserção do armazenamento pode permitir:
- Maior penetração de energia solar e eólica sem comprometer a estabilidade do sistema;
- Redução das emissões associadas à geração de reserva (termelétricas);
- Ganhos econômicos para consumidores com geração distribuída (GD), que poderiam usar baterias para aumentar sua autonomia e eficiência.
Um setor cheio de possibilidades para jovens profissionais
Para estudantes e profissionais em formação, o avanço do armazenamento de energia no Brasil representa novos nichos de carreira, tanto na área técnica quanto em pesquisa, inovação, regulação e planejamento energético. Empresas de tecnologia, integradores de sistemas, fabricantes de baterias e consultorias especializadas estão de olho nesse mercado em expansão.
Com mais debates como o promovido pela Câmara, abre-se o caminho para que o Brasil avance rumo a um sistema elétrico mais moderno, limpo e resiliente — e o armazenamento de energia será peça central nessa jornada.