Apesar das chuvas registradas no primeiro semestre de 2025 em várias regiões do Brasil, os níveis dos reservatórios de hidrelétricas seguem abaixo do ideal, segundo dados recentes do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A situação é especialmente crítica nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, responsáveis por cerca de 70% da capacidade de armazenamento do país.
Mas por que isso acontece, mesmo com o aumento das chuvas?
1. Choveu, mas não onde (nem quando) precisava
As precipitações ocorreram com irregularidade geográfica e temporal. Ou seja, choveu mais em áreas urbanas e regiões costeiras, e menos nas bacias hidrográficas estratégicas para o abastecimento dos reservatórios.
Além disso, o regime de chuvas tem sido afetado por eventos climáticos extremos, como o El Niño e as mudanças no padrão da Zona de Convergência do Atlântico Sul, que deslocam o volume de chuvas para locais menos relevantes do ponto de vista hidrelétrico.
2. Consumo energético segue em alta
Outro fator que pressiona os reservatórios é o aumento da demanda elétrica, tanto pela retomada econômica quanto pelo maior uso de ar-condicionado e equipamentos de refrigeração durante ondas de calor prolongadas. Em 2024 e 2025, o Brasil registrou recordes de consumo no setor residencial, segundo a EPE e o ONS.
3. Geração térmica e custos operacionais
Com os reservatórios baixos, o ONS é obrigado a acionar usinas termelétricas, que são mais caras e mais poluentes. Esse movimento impacta o custo da energia (bandeiras tarifárias mais altas) e contribui para o aumento das emissões de carbono, comprometendo os compromissos climáticos do país.
Situação atual: dados preocupam
Segundo o boletim do ONS de julho de 2025:
- Região Sudeste/Centro-Oeste: reservatórios com cerca de 40% da capacidade
- Região Sul: variação intensa e pouca previsibilidade
- Região Norte: em melhor situação, mas com baixo peso no sistema interligado nacional
O que isso significa para o futuro?
- Maior vulnerabilidade a apagões e racionamentos, especialmente se a próxima estação seca for intensa;
- Necessidade urgente de diversificação da matriz elétrica, acelerando fontes como solar, eólica e armazenamento de energia;
- Pressão por políticas de eficiência energética e campanhas de consumo consciente.
Conclusão
A crise hídrica não é apenas falta de chuva — é resultado de um sistema pressionado pelas mudanças climáticas, alta demanda e gestão ineficiente da água e da energia. Estar atento aos níveis dos reservatórios é, hoje, uma questão de segurança energética nacional. A solução exige ação coordenada entre governo, setor elétrico e sociedade.