Em 2025, o Brasil será sede de um dos eventos mais relevantes do planeta: a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), prevista para acontecer em Belém (PA). Mas enquanto os olhos do mundo se voltam para a Amazônia e para os discursos sobre justiça climática, as obras estruturantes do evento estão sendo abandonadas ou paralisadas.
A pergunta que surge é direta: o que essa situação representa para o compromisso climático do Brasil — e para a imagem internacional do país no combate à crise climática?
O que está acontecendo?
Nos últimos meses, diversos veículos da imprensa nacional e regional divulgaram que obras de mobilidade urbana, acessibilidade, requalificação urbana, saneamento e infraestrutura para a COP30 estão com andamento atrasado, licitações travadas ou foram simplesmente abandonadas. Algumas das estruturas previstas para receber delegações internacionais não saíram do papel, mesmo com prazos apertados.
Segundo o Tribunal de Contas do Estado do Pará (TCE-PA) e o Ministério Público de Contas, há risco real de não entrega das obras até a conferência, marcada para novembro de 2025.
O impacto vai além da construção civil
Muito mais do que uma questão de obras inacabadas, a paralisação atinge dimensões diplomáticas, ambientais e políticas. A COP30 seria a primeira conferência climática da ONU em um estado amazônico — uma oportunidade simbólica e estratégica de mostrar ao mundo que o Brasil está comprometido com o protagonismo climático, com foco em soluções inclusivas e sustentáveis.
O abandono das obras compromete:
- A imagem do Brasil como líder climático global;
- A confiança de investidores, diplomatas e ONGs internacionais;
- A capacidade do país em organizar políticas públicas de longo prazo em torno da transição energética e descarbonização.
Repercussão no setor energético
O cenário climático e energético estão interligados. A COP30 é espaço de:
- Negociação de metas de redução de emissões;
- Apresentação de projetos de energia limpa e tecnologias verdes;
- Busca por financiamento internacional para renováveis, adaptação e infraestrutura.
Sem a infraestrutura adequada para o evento, o Brasil corre o risco de perder força em pautas que envolvem hidrogênio verde, créditos de carbono, inovação energética e mecanismos de justiça climática.
Além disso, a ausência de credibilidade pode comprometer parcerias estratégicas com fundos climáticos multilaterais e iniciativas internacionais que exigem seriedade institucional.
Sinais de alerta
A situação gera desconforto inclusive entre representantes do próprio governo, que já haviam apostado alto na COP30 como vitrine da nova diplomacia ambiental brasileira.
A realização da conferência na Amazônia foi celebrada como símbolo de reconstrução após anos de retrocesso ambiental — mas sem entregas concretas, o discurso pode soar vazio.
E não é apenas uma questão de “receber bem os visitantes”: a COP30 precisa deixar legado social, urbano e ambiental para a cidade-sede e para o país.
Conclusão
A paralisação das obras da COP30 não é um problema isolado de infraestrutura — é um sintoma preocupante de falhas na articulação entre o discurso ambiental e a prática institucional.
Se o Brasil deseja liderar a agenda climática, precisa entregar mais do que promessas: precisa agir com eficiência, transparência e compromisso real com o futuro sustentável.