Uma pesquisa iniciada na Universidade Federal do Ceará (UFC) e que hoje envolve mais de 240 cientistas em 8 países está revolucionando o uso da pele de tilápia em tratamentos médicos e veterinários. O projeto, que começou em 2015 com foco em queimaduras humanas, já expandiu suas aplicações para cirurgias ginecológicas, oftalmologia veterinária, odontologia e transplantes de tecidos.
De curativo para queimaduras à reconstrução de tecidos
Inicialmente testada como substituto do curativo convencional em queimaduras de 2º e 3º grau, a pele de tilápia demonstrou eficácia superior ao manter o ferimento úmido, proteger contra infecções e acelerar a cicatrização. O sucesso foi tanto que o tratamento virou referência internacional e já é utilizado de forma experimental em hospitais do SUS.
Agora, os pesquisadores avançam em novas aplicações:
- Reconstrução vaginal em pacientes com síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser (MRKH), que nascem sem canal vaginal;
- Tratamento de úlceras de córnea em cães, com resultados animadores na oftalmologia veterinária;
- Enxertos dentários e ósseos, com estudos conduzidos em parceria com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) e a USP.
Um projeto com impacto internacional
Além da UFC, o projeto conta com participação de universidades e centros de pesquisa no Brasil, EUA, Canadá, Colômbia, Holanda, Argentina, Israel e França, com apoio de instituições como Fiocruz, Unifesp, USP e Unicamp.
O material é abundante, sustentável e de baixo custo: a pele da tilápia — antes descartada pela indústria pesqueira — é rica em colágeno tipo 1, possui resistência elástica e baixo risco de rejeição. Esses fatores fazem dela uma alternativa viável a materiais sintéticos e pele humana ou suína, que são mais caros e escassos.
Conclusão
A inovação da pele de tilápia é um exemplo de como a ciência brasileira pode transformar resíduos em soluções de alto impacto social e econômico. O avanço do projeto posiciona o Brasil como líder global em biotecnologia acessível, com potencial de transformar práticas clínicas em áreas críticas da saúde.